Selecione

19. João, o simples

Texto Original

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1 Cum vero quadam die iret beatus Franciscus ad quandam ecclesiam cuiusdam ville civitatis Assisii, cepit scopare eam, et statim de ipso rumor factus est in illa villa, maxime quia libenter ab illis hominibus videbatur et audiebatur. 
2 Ut autem audivit quidam, Iohannes nomine, vir mire simplicitatis, qui arabat in quodam suo agro prope ecclesiam illam, statim ivit ad ipsum inveniens illum scopantem ecclesiam; 
3 et dixit ad eum: “Frater, da michi scopam, quia volo te adiuvare”. 
4 Et accipiens scopam ab ipso scopavit residuum. 
5 Et sedentibus illis dixit ille ad beatum Franciscum: “Frater, iam diu est quod habui voluntatem serviendi Deo, et maxime postquam de te et tuis fratribus rumorem audivi; sed nesciebam, qualiter ad te venirem. 
6 Sed postquam Domino placuit ut te viderem, volo facere quicquid tibi placuerit”. 
7 Beatus Franciscus considerans eius fervorem exultavit in Domino, maxime quia tunc paucos habebat fratres, et quia sibi videbatur propter eius puram simplicitatem, quod deberet esse bonus religiosus; 
8 qui dixit ei: “Frater, si vis esse de vita et societate nostra, oportet quod expropries te de omnibus tuis que sine scandalo habere potes (cfr. Tob 1,3), et des ea pauperibus (cfr. Mat 19,21) secundum consilium sancti Evangelii, quia id fratres mei, qui potuerunt, fecerunt”. 
9 Quo audito statim ivit in agrum, ubi dimiserat boves, et solvit illos et duxit unum coram beato Francisco dicens ad eum: 
10 “Frater, tot annis servivi patri meo et omnibus de domo mea; licet parva sit hec portio hereditatis mee, volo istum bovem accipere pro portione mea et dare illum pauperibus (cfr. Mat 19,21) sicut tibi melius videbitur secundum Deum”. 
11 Videntes autem parentes eius et fratres, qui adhuc erant parvi, quod volebat dimittere eos, ceperunt ipsi et omnes de domo tam fortiter lacrimari et plangere alta voce quod motus est inde ad pietatem beatus Franciscus, maxime quia magna familia et imbecillis erat; 
12 et ait ad illos beatus Franciscus: “Parate et facite comestionem ut omnes insimul comedamus, et nolite plangere, quoniam vos letos faciam”. 
13 Illi autem statim paraverunt, et comederunt omnes cum multa letitia. 
14 Post comestionem dixit ad eos beatus Franciscus: “Iste filius vester vult servire Deo, de quo non contristari, sed gaudere debetis; 
15 et non solum secundum Deum, verum etiam secundum seculum istud imputatur vobis ad honorem et profectum animarum et corporum, quia de carne vestra honoratur Deus, et omnes fratres nostri erunt vestri filii et fratres. 
16 Et quia creatura Dei est et suo Creatori vult servire, cui servire regnare est, non possum nec debeo ipsum reddere vobis; 
17 sed, ut de ipso recipiatis et habeatis consolationem, volo quod ipse expropriet se vobis de isto bove tamquam pauperibus, licet pauperibus aliis deberet dari (cfr. Mat 19,21) secundum consilium sancti Evangelii”. 
18 Et consolati sunt omnes in verbis beati Francisci, et maxime letati sunt quod bos redditus est eis, quia pauperes erant. 
19 Et quia beatus Franciscus nimis diligebat et ei placebat semper pura et sancta simplicitas in se et in aliis, statim quod induit eum panno Religionis, ducebat illum pro socio suo. 
20 Erat enim ille tante simplicitatis, quod ad omnia quecumque faciebat beatus Franciscus, credebat se teneri. 
21 Unde, cum beatus Franciscus staret in aliqua ecclesia vel in alio loco remoto ad orationem et ipse volebat illum videre et respicere, ut eius se gestibus omnibus conformaret. 22 Unde si beatus Franciscus flecteret genua aut iungeret manus ad celum (cfr. Deut 32,40) aut spueret vel tussiret, et ipse similiter faciebat. 
23 Et cepit ipsum beatus Franciscus cum multa letitia de huiusmodi simplicitatibus redarguere; 
24 qui respondit ei: “Frater, ego promisi omnia facere que tu facis; unde volo facere omnia que tu facis”. 
25 Et mirabatur inde et letabatur beatus Franciscus videns ipsum in tanta puritate et simplicitate. 
26 Nam tantum cepit in omnibus virtutibus et bonis moribus perfectus esse, quod beatus Franciscus et alii fratres mirabantur plurimum de eius perfectione. 
27 Et non post multum tempus mortuus est in illa sancta perfectione. 
28 Unde beatus Franciscus, cum multa letitia utriusque hominis, narrabat inter fratres eius conversationem, et nominabat ipsum non fratrem Iohannem, sed sanctum Iohannem.

Texto Traduzido

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1 Pois, num dia em que o bem-aventurado Francisco fora a uma igreja de uma vila da cidade de Assis, começou a varre-la, e logo se espalhou o boato naquela vila, principalmente porque ele visto e ouvido de boa vontade por aquelas pessoas. 
2 Mas quando isso foi ouvido por um sujeito chamado João, da maior simplicidade, que estava arando num campo seu perto daquela igreja, ele foi logo para lá e o encontrou varrendo a igreja. 
3 Disse-lhe: “Irmão, dá-me a vassoura, porque quero te ajudar”. 
4 E, tomando a vassoura, dele, varreu o resto. 
5 E, sentado, disse ao bem-aventurado Francisco: “Irmão, já faz tempo que tenho vontade de servir a Deus, e mais ainda depois que ouvi falar de ti e de teus frades, mas não sabia como chegar a ti. 
6 Mas depois que aprouve a Deus que eu te visse, quero fazer tudo que te agradar”. 
7 O bem-aventurado Francisco, considerando o seu fervor, exultou no Senhor, principalmente porque tinha, então, poucos frades e porque lhe parecia que poderia ser um bom religiosos, por sua pura simplicidade. 
8 Então lhe disse: “Irmão, se queres ser de nossa vida e sociedade, é preciso que te desapropries de todas as tuas coisas que podes ter sem escândalo, e que dês tudo aos pobres, segundo o conselho do santo Evangelho, pois foi isso que fizeram os meus frades, que puderam”. 
9 Ouvindo isso, ele foi imediatamente para o campo, onde deixara os bois, soltou-os e trouxe um para o bem-aventurado Francisco, dizendo: 
10 “Irmão, servi durante tantos anos a meu pai e a todos de minha casa; ainda que seja pequena esta parte da minha herança, quero tomar este boi como a minha parte e dá-lo aos pobres, como melhor te parecer segundo Deus”. 
11 Mas quando seus parentes e irmãos, que ainda eram pequenos, viram que queria abandoná-los, começaram a chorar tão fortemente e tão alto, eles e todos da casa, que por isso moveu-se a piedade do bem-aventurado Francisco, principalmente porque a família era grande e fraca. 
12 Então o bem-aventurado Francisco lhes disse: “Preparai e fazei uma refeição para nós todos comermos juntos, e não choreis, porque vou deixar-vos alegres”. 
13 Eles logo prepararam, e todos comeram com muita alegria. 
14 Depois da refeição, o bem-aventurado Francisco lhes disse: “Este vosso filho quer servir a Deus, por isso vós tendes que ficar alegres, não tristes. 
15 E não só segundo Deus, mas também de acordo com este século, isso será atribuído a vós para honra e proveito das almas e dos corpos, porque Deus fica honrado pela vossa carne, e todos os nossos frades serão vossos filhos e irmãos. 
16 E porque é uma criatura de Deus e quer servir ao seu Criador, aquele para quem servir é reinar, não posso nem devo devolvê-lo a vós; 
17 mas, para que recebais e tenhais uma consolação por causa dele, quero que ele se exproprie desse boi em vosso favor, como a pobres, ainda que ele devesse dá-lo a outros pobres, segundo o conselho do santo Evangelho”. 
18 E todos ficaram consolados com as palavras do bem-aventurado Francisco, e se alegraram principalmente porque o boi lhes foi devolvido, porque eram pobres. 
19 E porque o bem-aventurado Francisco amava demais e sempre lhe agradava a santa simplicidade, em si e nos outros, logo que o vestiu com os panos da Religião, levava-o como seu companheiro. 
20 Pois ele era de tamanha simplicidade que se achava obrigado a fazer tudo que o bem-aventurado Francisco fizesse. 
21 Por isso, quando o bem-aventurado Francisco estava em alguma igreja ou em algum outro lugar afastado, para a oração, ele queria vê-lo e espiá-lo, para se conformar com todos os seus gestos. 
22 Então, se o bem-aventurado Francisco dobrasse os joelhos, ou juntasse as mãos para o céu, ou cuspisse, ou tossisse, ele fazia tudo igual. 
23 E o bem-aventurado Francisco começou a questiona-lo, com muita alegria, sobre esse tipo de simplicidade. 
24 Ele respondeu: “Irmão, u prometi fazer tudo que tu fazes, por isso quero fazer tudo que tu fazes”. 
25 O bem-aventurado Francisco ficava admirado e alegre com isso, vendo-o em tão grande pureza e simplicidade. 
26 Pois começou a ser tão perfeito em todas as virtudes e bons costumes, que o bem-aventurado Francisco e os outros frades ficavam muito admirados de sua perfeição. 
27 E não muito tempo depois, ele morreu naquela santa perfeição. 
28 Por isso o bem-aventurado Francisco, com muita alegria interior e exterior, falava entre os seus irmãos do seu comportamento, e não o chamava de Frei João mas de São João.